Em julho deste ano, os funcionários da Build a Rocket Boy - estúdio fundado por Leslie Benzies, ex-produtor de Grand Theft Auto - foram chamados para uma reunião geral. O primeiro jogo da empresa, MindsEye, havia sido lançado três semanas antes. E o resultado foi um desastre total.
Críticos e jogadores classificaram o game como “quebrado”, “cheio de bugs” e até “o pior jogo de 2025”. Durante o encontro, transmitido por vídeo, Benzies tentou tranquilizar a equipe, dizendo que havia um plano para colocar as coisas nos trilhos. Mas logo em seguida fez uma acusação chocante: segundo ele, havia “forças internas e externas” sabotando o lançamento do jogo.
“Eu acho nojento que alguém possa se sentar entre nós, agir assim e continuar trabalhando aqui”, afirmou, segundo uma transcrição verificada pela BBC. Muitos funcionários ficaram atônitos. Para eles, não havia conspiração nenhuma - o fracasso de MindsEye tinha explicações bem mais simples.
Leslie Benzies é uma figura lendária da Rockstar Games, onde foi peça-chave no sucesso de GTA V. Depois de deixar a empresa em 2016 e resolver uma longa disputa judicial, ele fundou a Build a Rocket Boy, que chegou a empregar quase 450 pessoas e levantar mais de £230 milhões em investimento. Mas junto com a ambição veio o caos.
Ex-funcionários relatam que Benzies constantemente mudava o rumo dos projetos. O primeiro deles, Everywhere, era um RPG multiplayer futurista que acabou sendo deixado de lado. O foco passou a ser MindsEye, um spin-off dentro desse universo, mas sem direção clara. “Leslie nunca decidiu que jogo queria fazer”, contou um ex-desenvolvedor à BBC. “Não havia coerência.”
Uma carta assinada por 93 funcionários acusa a liderança de tomar decisões “radicais” sem consultar o time e ignorar feedbacks. Segundo ex-produtores, era comum receber instruções diretas de Benzies, conhecidas internamente como “tickets do Leslie” - ordens que iam desde correções mínimas até mudanças drásticas, que paralisavam o fluxo de trabalho.
Com a data de lançamento se aproximando, o estúdio entrou em crunch: oito horas extras obrigatórias por semana, sem pagamento adicional. O clima ficou pesado, e muitos relatam problemas de saúde física e mental. Mesmo assim, a equipe ainda acreditava que o jogo poderia surpreender.
No dia 10 de junho de 2025, MindsEye finalmente chegou ao público. O lançamento foi comemorado com champanhe no escritório de Edimburgo - mas a festa durou pouco. Os jogadores começaram a relatar bugs grotescos, desde NPCs flutuando até rostos derretendo em tempo real. Streamers cancelaram transmissões patrocinadas, e as notas despencaram.
Logo depois, a Build a Rocket Boy anunciou demissões em massa: entre 250 e 300 pessoas perderam o emprego, principalmente na Escócia. O sindicato IWGB, que representa trabalhadores de games no Reino Unido, acusa o estúdio de “má condução desastrosa” do processo e promete ações legais.
Em comunicado, o estúdio disse lamentar as demissões e reconheceu que MindsEye “não refletiu a experiência que a comunidade merecia”. Prometeu continuar trabalhando em atualizações e novos conteúdos.
Mas para muitos ex-funcionários, já é tarde demais. “É triste ver o que poderia ter sido uma grande oportunidade para a indústria escocesa ser desperdiçado”, disse um ex-analista de dados. Outro ex-desenvolvedor foi mais direto: “As pessoas aqui eram talentosas demais para merecer esse destino.”
Apesar do caos, há quem ainda guarde carinho pelos colegas que viveram o mesmo pesadelo. “Falamos por eles”, disse um dos autores da carta aberta. “A gente sabe o quanto vale - e sabe que merece melhor.”
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