
Lançado em 2007 no Japão, o anime Afro Samurai – uma adaptação de uma série de mangá independente, os chamados "dôjinshi" – trazia uma mescla inusitada entre a cultura hip-hop e os filmes de época japoneses. Enquanto a idéia não é uma grande novidade para conhecedores do assunto (afinal de contas, a série "Samurai Champloo" apresentava proposta similar, misturando scratches, grafite e break em meio aos duelos de espada no Japão antigo), um dos diferenciais estava na ponte feita entre ocidente e oriente ao colocar um protagonista negro – dublado por ninguém menos que Samuel L. Jackson - com um frondoso cabelo afro no papel principal.... isto e o fato da trama contar com pequenos elementos futuristas, no lugar do típico Japão feudal. Com uma minissérie animada de cinco episódios e um longa-metragem lançado recentemente, tudo parecia uma ótima pedida para um game de ação...
E não deu outra: "Afro Samurai" é o título de estreia do Surge, novo selo da Namco Bandai para os títulos de apelo para o público ocidental. No game, o jogador vê um pouco da trama original e certas épocas aparentemente não abordadas de forma direta na série original, como a parte pouco antes de Afro obter a bandana número dois – na lista dos mais letais guerreiros, o único que pode desafiar o número um, considerado dentre eles uma divindade entre os homens... ah, sim, calha de ser Justice, o sujeito que matou o pai de Afro no comecinho da série – e outras tramas paralelas no curioso Japão estilizado do game. Mesmo para quem não teve a oportunidade de assistir a série, a trama é apresentada de forma fácil de compreender.
A jogabilidade do game é a boa e velha "hack and slash", de sair detonando todo mundo que aparece na tela. A disposição dos golpes é igualmente tradicional: golpe forte, golpe fraco, chute, pulo e defesa. Além disto, emendar golpes com sucesso permite que Afro realize alguns golpes mortais, o principal sendo um grande corte na transversal que partirá o inimigo em pedaços se ele já estiver enfraquecido o suficiente. Pressionando o gatilho esquerdo, tudo fica em câmera lenta e preto e branco: esta é a hora de realizar tal ataque, soltando o botão escolhido na hora em que o brilho chegar à ponta de sua espada.
Neste ataque especial, um chute equivale a uma rasteira que joga o inimigo para o alto; os golpes forte e fraco equivalem a cortes na horizontal e vertical, e no meio deste ataque especial o jogador usa o stick analógico para alinhar o corte como preferir, com grande precisão - é possível ver uma linha certeira onde este golpe tranversal será desferido desenhado sobre a vítima da vez. Isto inclusive vale para um pequeno jogo bônus proporcionado por Ninja Ninja, o falastrão parceiro de viagens de Afro, o "body part poker" (pôquer de partes do corpo: dependendo das partes decepadas, mãos diferentes de baralho são reconhecidas).
No meio das fases, existem áreas onde grupos de corvos são encontrados. Cada fase do game tem cinco destes, e achar todas as de cada uma equivale a destrancar um golpe especial... aliás, não se deixem enganar como quase aconteceu conosco: ao pressionar Back, o jogo lista todos os combos disponíveis e demais habilidades aprendidas. O negócio é que o jogo não deixa isto muito claro, induzindo o jogador a achar que é tudo um festival de esmagar botões na ordem certa... bola fora por parte da Namco Bandai, mas fica a nossa dica para vocês evitarem tal frustração e conferirem as habilidades diferentes de Afro.
Em termos de apresentação, "Afro Samurai" faz bonito na maioria do tempo, mesmo que com um vacilo aqui ou ali. O visual pega pesado no estilo cel-shading, com tracejados sobre as cores que fazem tudo parecer um misto de história em quadrinhos e animação. Os modelos de personagem são bacanas, principalmente dos personagens principais, e para os fãs de jogos violentos é o paraíso: é normal ver personagens sendo partidos em pedaços. Alguns truques gráficos foram bem usados, como um sistema parecido com o de vegetação para criar o cabelo esvoaçante de Afro e Ninja Ninja. O efeito em preto e branco aplicado nas sequências de golpe especial também faz bonito. Outra sacada bacana foi colocar breves intervalos de sonho e memórias de Afro nas telas de carregamento do game, sempre culminando em um close do herói de olhos fechados e abrindo-os quando o load termina e Ninja Ninja o chama em voz alta. Além disto, o game não conta com uma HUD, a energia dos personagens é representada pela quantidade de cor vermelha encobrindo o personagem.
Enquanto a trilha sonora da série animada é de criação de RZA, premiado rapper e líder do grupo Wu-Tang Clan, apenas algumas canções foram de autoria do próprio no game. No entanto, não dá para dizer que as músicas não combinam com a ação apresentada, incluindo temas com vocal em certas partes do game e tudo mais. Já a dublagem, esta sim conta com o elenco completo de astros do original, incluindo Sam Jackson como Afro e Ninja Ninja, Ron Perlman como o vilão Justice e a bela Kelly Hu como Okiku. Certas tiradas do game deixam bem claro que não se trata de um jogo para crianças, como algumas frases de Ninja Ninja... em uma versão bem abrandada, Ninja Ninja profere a pérola: "Afro, você passou tanto tempo procurando por justiça que esqueceu como é que se caça mulher". Isto e o fato de certa parte do game envolver guerreiras apenas com a parte de baixo do biquíni e pinturas sugestivas no resto. Não levou o selo Mature à toa, enfim.
Infelizmente, a estreia de "Afro Samurai" no mundo dos games não deixou de ter uma série de deslizes consideráveis. A primeira coisa a se notar é a facilidade do game: em nosso período de testes, conseguimos passar umas 4 horas sem morrer uma vez sequer... aí de repente chega uma luta de boss que fica absolutamente impossível, como é o caso do Brother 6 e seu lança-chamas. Parte da culpa disto é que o jogo não comunica bem assim os golpes e habilidades de Afro, e de repente o jogador se vê frente a um inimigo aparentemente imbatível. Outro aspecto que não ajuda é a câmera: como esta fica normalmente bem próxima ao personagem, nem sempre é fácil notar se tem inimigos chegando por este lado... aí haja paciência para ficar girando a câmera na mão com o stick analógico. Não que seja sempre necessário, até dá para sair batendo e torcer para que os ataques encaixem... mas é que o muito bem-intencionado sistema de corte transversal é diretamente prejudicado por isto, por exemplo. Por fim, os inimigos se repetem demais nas fases, e algumas ocorrências de slowdown e colisão esquisita de modelos são inexplicáveis. Não atrapalham na jogabilidade, mas ficam feias na tela...
Em sua estreia no mundo dos consoles, "Afro Samurai" tropeça um bocado, mas até que diverte. Misturando bem as temáticas de Japão feudal e a cultura hip-hop, o game é violento como o material de origem, tem estilo de sobra e oferece bastante ação com katanas, ninjas e guerreiros de origens diversas e inusitadas. O clima do game parece misturar tanto o anime quanto o grafismo dos quadrinhos, com cores fortes e tracejados que lembram desenhos feitos a mão; a dublagem conta com o elenco do original; a trilha sonora deixaria o rapper RZA orgulhoso, pois remetem um bocado ao material com o qual ele colaborou na animação. Eliminar os inimigos de formas variadas – inclusive com um golpe especial que deixa o jogador fazer um corte transversal bem localizado nos inimigos – dá gosto quando possível. Infelizmente, as hordas de espadachins, ninjas e o sinistro pistoleiro Justice não são os únicos inimigos de Afro neste jogo: a câmera inconstante, os slowdowns inexplicáveis, algumas colisões estranhas, a falha em comunicar bem as habilidades do herói e inimigos um tanto repetitivos também atrapalham bastante o que poderia ser um ótimo game de ação. Então, Afro, combinamos assim: sua chegada é bem intencionada, mas você ficou devendo em alguns aspectos. Volte e treine mais, pois estamos esperando-o em uma sequência melhorada.
Trailer :
COMENTEM !!
E não deu outra: "Afro Samurai" é o título de estreia do Surge, novo selo da Namco Bandai para os títulos de apelo para o público ocidental. No game, o jogador vê um pouco da trama original e certas épocas aparentemente não abordadas de forma direta na série original, como a parte pouco antes de Afro obter a bandana número dois – na lista dos mais letais guerreiros, o único que pode desafiar o número um, considerado dentre eles uma divindade entre os homens... ah, sim, calha de ser Justice, o sujeito que matou o pai de Afro no comecinho da série – e outras tramas paralelas no curioso Japão estilizado do game. Mesmo para quem não teve a oportunidade de assistir a série, a trama é apresentada de forma fácil de compreender.
A jogabilidade do game é a boa e velha "hack and slash", de sair detonando todo mundo que aparece na tela. A disposição dos golpes é igualmente tradicional: golpe forte, golpe fraco, chute, pulo e defesa. Além disto, emendar golpes com sucesso permite que Afro realize alguns golpes mortais, o principal sendo um grande corte na transversal que partirá o inimigo em pedaços se ele já estiver enfraquecido o suficiente. Pressionando o gatilho esquerdo, tudo fica em câmera lenta e preto e branco: esta é a hora de realizar tal ataque, soltando o botão escolhido na hora em que o brilho chegar à ponta de sua espada.
Neste ataque especial, um chute equivale a uma rasteira que joga o inimigo para o alto; os golpes forte e fraco equivalem a cortes na horizontal e vertical, e no meio deste ataque especial o jogador usa o stick analógico para alinhar o corte como preferir, com grande precisão - é possível ver uma linha certeira onde este golpe tranversal será desferido desenhado sobre a vítima da vez. Isto inclusive vale para um pequeno jogo bônus proporcionado por Ninja Ninja, o falastrão parceiro de viagens de Afro, o "body part poker" (pôquer de partes do corpo: dependendo das partes decepadas, mãos diferentes de baralho são reconhecidas).
No meio das fases, existem áreas onde grupos de corvos são encontrados. Cada fase do game tem cinco destes, e achar todas as de cada uma equivale a destrancar um golpe especial... aliás, não se deixem enganar como quase aconteceu conosco: ao pressionar Back, o jogo lista todos os combos disponíveis e demais habilidades aprendidas. O negócio é que o jogo não deixa isto muito claro, induzindo o jogador a achar que é tudo um festival de esmagar botões na ordem certa... bola fora por parte da Namco Bandai, mas fica a nossa dica para vocês evitarem tal frustração e conferirem as habilidades diferentes de Afro.
Em termos de apresentação, "Afro Samurai" faz bonito na maioria do tempo, mesmo que com um vacilo aqui ou ali. O visual pega pesado no estilo cel-shading, com tracejados sobre as cores que fazem tudo parecer um misto de história em quadrinhos e animação. Os modelos de personagem são bacanas, principalmente dos personagens principais, e para os fãs de jogos violentos é o paraíso: é normal ver personagens sendo partidos em pedaços. Alguns truques gráficos foram bem usados, como um sistema parecido com o de vegetação para criar o cabelo esvoaçante de Afro e Ninja Ninja. O efeito em preto e branco aplicado nas sequências de golpe especial também faz bonito. Outra sacada bacana foi colocar breves intervalos de sonho e memórias de Afro nas telas de carregamento do game, sempre culminando em um close do herói de olhos fechados e abrindo-os quando o load termina e Ninja Ninja o chama em voz alta. Além disto, o game não conta com uma HUD, a energia dos personagens é representada pela quantidade de cor vermelha encobrindo o personagem.
Enquanto a trilha sonora da série animada é de criação de RZA, premiado rapper e líder do grupo Wu-Tang Clan, apenas algumas canções foram de autoria do próprio no game. No entanto, não dá para dizer que as músicas não combinam com a ação apresentada, incluindo temas com vocal em certas partes do game e tudo mais. Já a dublagem, esta sim conta com o elenco completo de astros do original, incluindo Sam Jackson como Afro e Ninja Ninja, Ron Perlman como o vilão Justice e a bela Kelly Hu como Okiku. Certas tiradas do game deixam bem claro que não se trata de um jogo para crianças, como algumas frases de Ninja Ninja... em uma versão bem abrandada, Ninja Ninja profere a pérola: "Afro, você passou tanto tempo procurando por justiça que esqueceu como é que se caça mulher". Isto e o fato de certa parte do game envolver guerreiras apenas com a parte de baixo do biquíni e pinturas sugestivas no resto. Não levou o selo Mature à toa, enfim.
Infelizmente, a estreia de "Afro Samurai" no mundo dos games não deixou de ter uma série de deslizes consideráveis. A primeira coisa a se notar é a facilidade do game: em nosso período de testes, conseguimos passar umas 4 horas sem morrer uma vez sequer... aí de repente chega uma luta de boss que fica absolutamente impossível, como é o caso do Brother 6 e seu lança-chamas. Parte da culpa disto é que o jogo não comunica bem assim os golpes e habilidades de Afro, e de repente o jogador se vê frente a um inimigo aparentemente imbatível. Outro aspecto que não ajuda é a câmera: como esta fica normalmente bem próxima ao personagem, nem sempre é fácil notar se tem inimigos chegando por este lado... aí haja paciência para ficar girando a câmera na mão com o stick analógico. Não que seja sempre necessário, até dá para sair batendo e torcer para que os ataques encaixem... mas é que o muito bem-intencionado sistema de corte transversal é diretamente prejudicado por isto, por exemplo. Por fim, os inimigos se repetem demais nas fases, e algumas ocorrências de slowdown e colisão esquisita de modelos são inexplicáveis. Não atrapalham na jogabilidade, mas ficam feias na tela...
Em sua estreia no mundo dos consoles, "Afro Samurai" tropeça um bocado, mas até que diverte. Misturando bem as temáticas de Japão feudal e a cultura hip-hop, o game é violento como o material de origem, tem estilo de sobra e oferece bastante ação com katanas, ninjas e guerreiros de origens diversas e inusitadas. O clima do game parece misturar tanto o anime quanto o grafismo dos quadrinhos, com cores fortes e tracejados que lembram desenhos feitos a mão; a dublagem conta com o elenco do original; a trilha sonora deixaria o rapper RZA orgulhoso, pois remetem um bocado ao material com o qual ele colaborou na animação. Eliminar os inimigos de formas variadas – inclusive com um golpe especial que deixa o jogador fazer um corte transversal bem localizado nos inimigos – dá gosto quando possível. Infelizmente, as hordas de espadachins, ninjas e o sinistro pistoleiro Justice não são os únicos inimigos de Afro neste jogo: a câmera inconstante, os slowdowns inexplicáveis, algumas colisões estranhas, a falha em comunicar bem as habilidades do herói e inimigos um tanto repetitivos também atrapalham bastante o que poderia ser um ótimo game de ação. Então, Afro, combinamos assim: sua chegada é bem intencionada, mas você ficou devendo em alguns aspectos. Volte e treine mais, pois estamos esperando-o em uma sequência melhorada.
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