Algumas coisas na vida, dizem, são inevitáveis. A morte. Os impostos. Atualmente, os spams. Mas no que diz respeito aos games, há uma verdade certa: você vai perder seu tempo com algum jogo bem ruim. E o pior é que, em certos casos, fazemos isso de propósito.
Não é nenhuma tara obscura: o fato é que há muito mais games ruins do que bons. A proporção, eu diria, é de 10 pra 1. Dez jogos fracos pra cada um clássico. Essa conta valia na época dos consoles 8-bit, ou ainda na do Super NES/Mega Drive. Hoje, nesses tempos de fartura, a proporção aumenta e muito - 30 pra 1. 40? Por aí. Eu nunca fui muito bom de estatística, apesar de adorar fazer uma continha pra passar o tempo.
Meu ponto é: jogamos games ruins durante toda a vida. E o que é mais esquisito, alguns, jogamos, insistimos, vamos até o fim, porque gostamos! Quem disse que ser ruim significa ser de todo descartável? Há charme na tosquice. Jogos capengas podem ser amados até por gamers cheios de repertório e conhecimento. Eu me incluo nesse seleto grupo - daqueles que investiam no jogo ruim por esporte e puro prazer.
Porém, não se pode confundir um jogo “ruim” com um jogo “horrível”. Há uma grande distância entre as duas categorias. Se eu tiver que explicar, talvez você não entenda. O conceito é abstrato. Mas para ordem de comparação, vejamos. Pensando no Nintendo 64: Mischief Makers é um jogo ruim. Superman, por sua vez, é horrível. Deu pra sacar? Não? Paciência. É coisa da minha cabeça mesmo. Coisas que pensamos quando temos que escrever boas sacadas às 3 horas da manhã…
Levando minha “teoria” em consideração, fiz uma listinha básica formada por alguns desses games “ruins” que levaram embora muito do meu tempo livre. Para restringir a lista, só vou citar games com mais de sete anos de idade. Tenho certeza que criarei polêmica, mas muito por causa da dificuldade em se entender exatamente o que “ruim” significa. Lembre-se: há os clássicos, os bons, os regulares, os ruins e os horríveis. Isso vale para os games, mas também para cinema, música e qualquer outra manifestação cultural digna de análise - e também para várias outras coisas da vida. Mania de jornalista rotulador. Mas se você está lendo este texto, é porque não é exatamente contrário a isso, correto?
A seguir, dez games “ruins” que consumiram minha vida (sem ordem de preferência):
1. Teenage Mutant Ninja Turtles (NES)
Minha teimosia de moleque de 13 anos foi a culpada por eu ter gasto todas as minhas economias no cartucho original desta bomba - mesmo com os conselhos contrários de minha mãe. Custou algo em torno de 75 mil dinheiros na época (algo como “super caro” na cotação atual) e foi meu primeiro jogo original comprado em loja - um verdadeiro luxo, se levado em conta que tudo o que havia no mercado eram clones do Nintendinho com nomes de jogos alterados. A compra, por impulso, aconteceu porque eu estava fascinado pelo jogo das Tartarugas Ninjas no fliperama. Quando cheguei em casa e encaixei o tijolo cinzento no Phantom System, percebi em segundos que havia feito uma grande cagada. Mas não dei o braço a torcer: minha mãe, sábia senhora, jamais ficou sabendo de minha decepção. E eu lá iria dar o gostinho pra ela de mostrar que estava certa mais uma vez? Pior que isso, só descobrir que o TMNT II: The Arcade Game, a verdadeira versão daquele amado game de fliperama, chegaria às lojas não muito tempo depois. A propósito: hoje, detesto tartarugas. Principalmente as que comem pizza.
2. Star Wars: Episode I - Racer (Nintendo 64)
Foi o hype louco de Star Wars em 1999 que me fez pirar nesse game de corrida esquisito, repetitivo e sem nenhum atrativo a mais. Ok, havia atrativos: o fato de seguir fielmente o filme de George Lucas lançado naquele ano (o qual, aliás, se revelou o segundo pior da saga, só perdendo para o Episódio II, lançado em 2002). Mas também havia a obrigação profissional: ficou em minhas mãos a tarefa de detonar o game para a revista Nintendo World, na qual eu era redator. Na verdade, fui eu quem se ofereceu para o trabalho. Não que eu tenha reclamado na época… mas juro que se fosse obrigado a fazer o mesmo hoje em dia, iria preferir trocar de profissão.
3. Shadow of the Beast (Mega Drive)
Havia algo ali, e eu sabia: não era possível que um game tão difícil e misterioso fosse ruim. A tela não trazia nenhuma informação além de seu personagem bestial em duas dimensões. Não havia continues, chances extras, vidas, nada. Havia um ponto em que era quase impossível passar sem morrer. E depois da morte, game over. Eu não queria acreditar que aquele jogo de 8 megabytes (um absurdo na época) era, na verdade, uma enganação das grandes. Claro, há quem discorde de mim. Mas hoje, olhando pra trás, sinto que poderia ter gasto meu tempo com outras coisas mais interessantes. Futebol, por exemplo - pra mim, das perdas de tempo da vida, a mais sensacional de todas.
4. Columns (Master System/Game Gear)
Naquela época (quando, 1990?), puzzles verticais eram novidade. Tetris era Tetris e não havia muito como ser equiparado com qualquer outro jogo. Os consoles da Sega, por sua vez, não tinham Tetris. E era preciso se contentar com Columns, que era praticamente a mesma coisa, salvos uns detalhes mínimos. Era o esquema de “quem não tem cão, caça com gato”, ou “se não tem pão, que coma brioche”. Columns, definitivamente, não era a mesma coisa que Tetris. E não tinha o charme de Dr. Mario, outro dos primos do puzzle de Alexei Pajinov. Mas a gente jogava, jogava, jogava. E antes de dormir, ainda ficava enxergando irritantes pecinhas coloridas caindo sem parar, mesmo com olhos fechados. Dava pesadelo.
5. Rally X (Arcade)
Tá certo, este é clássico - e clássicos, todos sabem, são intocáveis. Mas Rally X, o game do carrinho que solta fumaça na tela cor-de-chiclete, era tão viciante que chegava a irritar. E o fato de ser um game onipresente no Brasil foi o que o tornou tão famoso: era só viajar para algum ponto turístico qualquer (Poços de Caldas, Serra Negra, até Itanhaém) e lá estava a única máquina disponível, com aquela musiquinha grudenta rolando sem parar. Tão grudenta, que o trio Little Quail and the Mad Birds a homenageou com uma versão punk em seu primeiro disco (de 1995). Para evitar problemas, eles a renomearam “Stock Car”, mas não deixaram de dar o crédito ao jogo no encarte. Muito justo. Mas que Rally X - um Pac-Man motorizado muito do mequetrefe - era uma tranqueira, isso lá era. Mas não quer dizer que a gente não curtia jogar. E tome fichas.
6. Two Crude Dudes (Mega Drive)
Daria para citar muitos outros games semelhantes, mas escolho este para ser o bode expiatório. Representando todos os jogos de pancadaria ridículos lançados para o Mega Drive, cito esta pérola descerebrada da tosquice. Não era nada especial, mesmo para a época: dois brucutus feiosos saem quebrando tudo, fase após fase, sem muito propósito. Mas o que nos prendia era o fato de aquilo tudo ser fácil demais, principalmente se jogado em duplas. Era como um passeio no parque, com direito a talagadas de refrigerante em lata para repôr as energias perdidas. O joystick do Mega Drive, coitado dele, não era mais o mesmo após umas sessões animadas de Two Crude Dudes. E quem disse que a gente ligava?
7. Quackshot starring Donald Duck (Mega Drive)
Escolhi este, mas poderia ter sido o Castle of Illusion (aquele do Mickey). Ambos seguiam a mesma premissa: games lindos de morrer, com personagens amados e conhecidos… e só. Talvez colocar os dois no mesmo balaio seja exagero: sob certo ponto de vista, Quackshot era infinitamente pior que o Castle of Illusion. O segundo ainda trazia um certo desafio e uma exigência de habilidade com saltos complicados e brigas espertas com chefões. Mas não ia muito além disso. O jogo do Pato Donald, por sua vez, era uma picaretagem só: havia puzzles e enigmas que não davam nó na cabeça nem de uma criança, além de desafios de jogabilidade que eram comprometidos pela jogabilidade tosca demais. Na época, não notei nada disso, claro. E me matei de jogar os dois. Aliás, graças ao visual, colorido de enjoar, eram os games perfeitos para mostrar pros mais velhos: “Olha, pai, como os videogames estão avançados!” Mal sabia eu.
8. Enduro (Atari)
Não me venha você com nostalgia barata: Enduro é ruim sim. E de tão ruim, era bom. Quem conseguia parar de jogar? Ninguém, porque não havia pausa: quanto mais se jogava, mais difícil ficava. E éramos proibidos de tirar os olhos da tela, já que uma piscada era o suficiente para bater, e bater e bater, até a corrida acabar. E eu jamais havia notado o truque: o que se move é a pista; o carro continuava ali, sempre paradinho no meio da tela. Mas ninguém notava. O triste mesmo era a repetição: a cada dia vencido, o enduro prosseguia idêntico ao anterior. Aquela fase na neve era infernal, mas não era pior que a parte da neblina, de acabar com os nervos. E aquela contagem regressiva irritante, quem suportava aquilo impassivelmente? Tudo bem, porque o importante era ganhar a bandeirinha e, no final de cinco insuportáveis dias, uma tacinha de campeão. E a tortura só acabava se você piscasse os olhos por muito tempo. Era difícil gostar de games nessa época, tenho que dizer.
9. Luigi’s Mansion (GameCube)
Dá para dar um desconto por esse ser o primeiro jogo do GameCube? Não dá. Afinal, acostumamos com clássicos irretocáveis nas estréias dos consoles Nintendo - Super Mario Bros. no NES, Mario World no Super NES, Mario 64 no N64. Mas Luigi’s Mansion? É forçar a amizade. A Nintendo quis nos empurrar goela abaixo o membro da família Mario menos carismático da história. E não me venha falar em simpatia, porque se for levar isso em conta, sou muito mais o Kirby. É claro que toda essa minha ladainha é recente: naquele já distante 2001, achei o game incrível ao ponto de jogar inteirinho, pegar todos os fantasmas e passar horas procurando segredos pela tal mansão (havia um propósito profissional aí, mas não vem ao caso). Hoje, por outro lado, lamento aquele tempão perdido na tarefa ingrata - eu poderia estar jogando algum Final Fantasy da vida. Sei lá.
10. Lakers vs. Celtics and the NBA Playoffs (Mega Drive)
Tinha que ter um game esportivo na lista. Eu poderia citar o sensacional de tão bizarro Joe Montana Football, ou mesmo a enganação Pat Riley Basketball (ambos para o console da Sega), mas prefiro citar um clássico absoluto para fechar o top 10. Nem dá para falar que Lakers Vs. Celtics é um game ruim. Para a época, era surpreendente mesmo, principalmente no que diz respeito à fidelidade: os jogadores eram parecidos com os de verdade e executavam movimentos baseados em suas habilidades da vida real. Fora que jogar de dois era uma maravilha de tão divertido (o equivalente a uma boa partida de Winning Eleven hoje em dia). Porém… vá tentar jogar esse game hoje em dia. É lento de dar pena. E cada partida, no modo padrão, possuia quatro tempos de 12 minutos cada! Ou seja, para vencer um único jogo, se gastava quase uma hora! E para se encarar o torneio inteiro até o playoff, quantas horas não eram desperdiçadas no processo? Uma eternidade. Mas eu jogava até o fim e nem notava o dia passar. Ainda bem que eu tinha tempo livre sobrando. Aliás, que saudade.
Pablo Miyazawa é jornalista, edita a Rolling Stone brasileira e jogou mais games ruins do que bons em seus 30 anos de existência. Atualmente, também conta fofocas do mercado nacional de games no Gamer.Br.
Minha Opinião:
O Miyazawa é fera! Joguei todos esses jogos que ele citou!!Claro que nem todos são obras de arte, mas naquela época a diversão era tanta que até os jogos mais fracos eram sinônimo de diversão!!
COMENTEM!!
2 comentários:
ALOC MANO DORGAS
tempo perdido com luigi´s mansion?????????
Vc se acho muito, seu tosco
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