O que está errado com os jogos AAA? Desenvolvimento do novo Battlefield responde !!

Após a recepção morna de Battlefield 2042, a Electronic Arts (EA) decidiu apostar alto em um novo capítulo da franquia. Codinome Glacier, o novo título está em pleno desenvolvimento, mas relatos de bastidores revelam um cenário conturbado, marcado por choques culturais, estresse extremo nas equipes e ambições desmedidas.
 
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O peso do passado

Desde os tempos dourados de Battlefield 3 e 4, a franquia luta para se manter relevante em um mercado cada vez mais competitivo. Enquanto Call of Duty e Fortnite dominam o cenário, a EA quer fazer o Battlefield atingir 100 milhões de jogadores - mesmo que o melhor desempenho anterior da série tenha sido Battlefield 1, com cerca de 30 milhões.

Um projeto com DNA AAA… e seus vícios

Glacier é o Battlefield mais ambicioso (e caro) de todos. O orçamento ultrapassou os US$ 400 milhões após a entrada de centenas de desenvolvedores de estúdios da EA. A ideia era criar um “pacote completo”: campanha single-player, modo Battle Royale gratuito, modos clássicos como Conquest e Rush, e até um sistema estilo Portal com conteúdo da comunidade.

Mas o sonho rapidamente virou um pesadelo.

Choques culturais e liderança descentralizada

Com a entrada de executivos veteranos como Vince Zampella (Call of Duty), Marcus Lehto (Halo) e Byron Beede (Destiny, Warzone), a produção foi descentralizada. A liderança passou para estúdios norte-americanos, gerando tensão com o estúdio sueco DICE, criador original da franquia.

Diferenças culturais entre EUA e Europa, falta de planejamento realista e prazos impostos pelo financeiro aumentaram o atrito. Desenvolvedores da DICE sentiram que estavam apenas “prestando suporte” a decisões vindas do topo.

A implosão da Ridgeline

A Ridgeline Games, estúdio responsável pela campanha single-player, foi encerrada em 2024 após dois anos de trabalho e nenhuma entrega aproveitável. A EA transferiu a responsabilidade para a DICE, Criterion e Motive, que tiveram de recomeçar do zero - com prazos mantidos.

O modo campanha ficou mais de dois anos atrasado em relação ao cronograma original, sendo o único modo que não atingiu o estágio alpha até o meio de 2025.

A lógica do mercado vs. a lógica da criação

Relatos apontam que muitos desenvolvedores não acreditam que o jogo atingirá as metas de público. Internamente, poucos confiam no número de 100 milhões de jogadores. Ainda assim, metas são mantidas por acionistas e investidores de olho em receitas bilionárias.

A pressão por entregar um produto completo e lucrativo, dentro de prazos fixos, gera o que muitos chamam de “AAA burnout”. Horas extras viraram rotina, com desenvolvedores enfrentando jornadas de trabalho que começavam às 5h da manhã para lidar com times em fusos diferentes.

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Preço alto para jogadores e para quem faz os jogos

O resultado disso tudo? Campanhas incompletas, modos sendo empurrados para atualizações pós-lançamento e patches massivos no dia 1. O jogo será lançado com o que estiver pronto - o resto virá depois, como parte de temporadas ou conteúdo pago.

O pior é que, por trás da ambição financeira, há equipes que ainda querem fazer um grande jogo. Desenvolvedores se preocupam com os jogadores, com a qualidade e com seus empregos. Mas a estrutura das grandes publishers transforma projetos criativos em apostas de alto risco, onde errar custa muito - para todos.

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